Numa madrugada fria e chuvosa de Janeiro, apeteceu-me nascer.
Enquanto o meu pai se metia no carro, para ir buscar a tia enfermeira-parteira que morava a uns quilómetros, só para "verem" o que se estaria a passar, o meu tio, então com dezasseis anos e mais tarde por mim baptizado como Tjá, achou que, melhor do ficar a roer as unhas com o pânico, seria ficar, entre contracções, a contar anedotas à minha mãe.
Assim, nos primeiros momentos, o cenário oscilava entre o rir agarrada à barriga e o suplicar, agarrada à mesma:
Ó mano, espera aí que vem lá outra! - contracção, claro!
Entretanto, a minha avó materna prestava grande auxilio e agarrada ao roupeiro do quarto gritava:
Ai filha, espera! Ai filha, espera!
O meu avô, esse sim, comportou-se como um Homem. Agarrou no sobretudo e nos chapéus - o de chuva e o outro de que tanto gostava - e abalou para a estação de comboios! Eram para aí umas três da manhã. Pormenor: o primeiro comboio passava às seis da manhã.
Melhor, melhor, foi quando o fabuloso Fiat 600 do meu pai decidiu parar em plena estrada, a caminho de Lisboa... Eram para aí umas duas e meia da manhã...
Telemóveis, trânsito... pois!
Pois é, mas caso não saibam, os anjos da guarda por vezes fazem serviço cá por baixo. Para que conste, o meu, à data dos factos, tinha um táxi. E não é que passou por aquele lugar onde, ainda hoje, às duas e meia da manhã, num dia de semana, só passam dois tipos de almas: as penadas e as a penar.
Quando a tia enfermeira-parteira lá chegou, finalmente, apenas para "ver" o que se estaria a passar, já só havia tempo para o Ponham a panela ao lume!!!!
... Mas tiveram de me dar umas boas, para eu conseguir chorar!
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